Em Portugal, há várias versões da Escala da Desesperança de Beck (Beck Hopelessness Scale – B.H.S), (Beck & Steer, 1988, cit. por Soeiro, P., 1998).
Antecedentes e Desenvolvimento
A B.H.S. (Beck, Weissman, Lester & Trexler, 1974, cit. por Soeiro, 1998), refere-se a uma escala composta por 20 itens, com a finalidade de medir a extensão das atitudes negativas sobre o futuro (pessimismo), tal como é percepcionado por adolescentes e adultos.
Esta escala foi inicialmente (forma original) desenvolvida por Aaron T. Beck e associados no “Center for Cognitive Therapy (C.C.T.), University of Pennsylvania, Department of Psychiatry”, no sentido de medir o pessimismo em doentes psiquiátricos em risco de suicídio. Contudo, tem sido, subsequentemente, utilizada em populações normais, em adultos e adolescentes (Greene, Jonhson & McCutvheon, cit. por Soeiro, 1998).
A Escala da Desesperança refere-se a um constructo psicológico, que está associado a uma variedade de desordens da saúde mental. Após ter revisto a leitura sobre a desesperança, Scotland (1969) sublinhou que embora vários clínicos acreditassem que este constructo era demasiado difuso para ser medido sistematicamente, existia consenso suficiente para construir um instrumento que possibilitasse avaliar as atitudes negativas, em relação à própria pessoa bem como ao seu futuro.
Trabalhando a partir de nove itens de um teste sobre atitudes relativas ao futuro (Heimberg, 1961, cit. por Soeiro, 1998), Beck e associados acrescentaram mais 11 itens, de uma sondagem de afirmações pessimistas sobre o futuro, recolhidas junto de doentes psiquiátricos que apresentavam sentimentos de desesperança.
A BHS aproxima-se da concepção de Stotland (1969) de desesperança como um sistema de esquemas cognitivos, nos quais o denominador comum é a expectativa negativa relativamente ao futuro, a curto e longo prazo (Beck et al., 1988, cit. por Soeiro, 1998).
Descrição e Conteúdo da Escala
A BHS é composta por 20 afirmações verdadeiro/falso que permitem avaliar a extensão das expectativas negativas sobre o futuro imediato e a longo prazo. Cada afirmação é pontuada com 0 ou 1. Das 20 afirmações, 9 são falsas e 11 são verdadeiras, para indicarem um aval de pessimismo sobre o futuro. Os resultados dos 20 itens são somados para atingir um resultado que pode ir de 0 a 20, sendo que os valores mais altos indicam uma maior desesperança.
Através de estudos desenvolvidos pelo C.C.T., sabe-se que resultados entre o 0 e 3 estão dentro do nível normal ou assintomático, de 4 a 8 é médio, de 9 a 14 a desesperança é moderada e mais de 14 é considerado um pessimismo severo (Beck et al., 1988, cit. por Soeiro, 1998).
Utilização Apropriada
A BHS mede a extensão das atitudes negativas em relação ao futuro. Tem uma utilidade especial como indicador indirecto do risco de suicídio em indivíduos deprimidos ou que fizeram tentativas de suicídio. Embora esta escala não tenha sido desenvolvida para detectar a desesperança em populações normais adolescentes e adultos, tem sido usada para tal fim (Durham, 1982; Fogg & Gayton, 1976; Greene, 1981, citados por Beck et al., 1988; Soeiro, 1998). Muitos investigadores têm utilizado a BHS com adolescentes a partir dos 13 anos de idade (Jonhson & McCutcheon, 1981; Topol & Reznokoff, 1982, citados por Soeiro, 1998).
Características psicométricas
Os estudos que abordaram as características psicométricas da BHS foram desenvolvidos com amostras retiradas de populações normais e populações com diagnósticos psiquiátricos. Parte da informação teve em conta amostras não diagnosticadas de acordo com o “Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders”, 3ª edição (DSM-III), (American Psychiatric Association, 1980, cit. por Soeiro, 1998). São descritos os dados obtidos com sete amostras normativas utilizadas pelo C.C.T.. No entanto, três destas amostras foram diagnosticadas de acordo com os critérios do DSM-III, usando a Entrevista Clínica Estruturada para o DSM-III (Spitzer & Williams, 1983, citados por Soeiro, 1998).
A maioria dos estudos relativos à BHS têm sido direccionados para comportamentos suicidas e alguns têm derivado de um estudo prospectivo a longo prazo relativamente ao comportamento suicida que foi iniciado por Beck e associados no C.C.T. em 1970 e completado em 1982 (Beck et al., 1985, cit. por Soeiro, 1998).
Consistência Interna
O nível de fidelidade Kunder-Richardson (KR-20) para os grupos de sujeitos com T.S., com I.S., heroinómanos, alcoólicos, com episódios recorrentes de Distúrbios de Depressão Major, com um único episódio de Distúrbios de Depressão Major e com Distúrbios Distémicos foi, respectivamente, 0,93; 0,92; 0,82; 0,91; 0,92; 0,92 e o,87. Estes resultados indicam que a BHS mantém uma alta consistência interna das sete amostras clínicas.
Validade
Na BHS foram considerados seis aspectos referentes à validade, como seja:
a)Conteúdo;
b) Simultaneidade;
c) Discriminante;
d) Contruto;
e) Preditivo;
f) Factorial.
Beck, Steer, Kovacs & Garrisson (1985, citados por Soeiro, 1998), num estudo de seguimento prospectivo (num espaço de tempo de cinco a dez anos), com 165 pacientes hospitalizados com ideação suicida, verificaram que a BHS constituía um poderoso indicador de um eventual suicídio. Dos 11 pacientes que cometeram suicídio, 10 (90,9%) tiveram resultados iguais ou superiores a 9 na BHS. Apenas um pacientes obteve um resultado inferior a 9. A taxa de falso-
negativo era, assim, de 9,1%. O resultado médio da BHS era significativamente mais elevado no grupo suicida (M=13,27; SD=4,43) do que no grupo não-suicida (M=8,94; SD=6,05; t (163)=2,33; p<0,05).
Beck, Brown, Berchick & Steer (1987, citados por Soeiro, 1998), descreveram um estudo no qual foi utilizada a BHS a 1969 pacientes externos, avaliados no C.C.T., entre 1978 e 1984. Dos 16 que cometeram suicídio, 15 (93,8%) apresentavam um resultado na BHS igual ou superiores a 9. Apenas um paciente obteve um resultado inferior a 9. A taxa de falso-negativo foi de 6,2%. Dos 1953 pacientes que não cometeram suicídio, 1152 (58,5%) obtiveram um resultado na BHS igual ou superior a 9. O resultado médio da BHS para os grupos de pacientes externos suicidas e não suicidas foi respectivamente M=15,13; SD=4,56 e M=9,99; SD=5,43.
Os dados pormenorizados relativos aos outros cinco aspectos da validade podem ser consultados no manual original.
S.